Com os olhos apertados e as mãos na cabeça, os dedos entrelaçados no meu cabelo, respirei fundo mais uma vez. A dor que eu sentia já se tornava insuportável, meu coração batia fora do compasso, cansado de fazer seu trabalho de rotina. Meu estômago não suportava segurar mais nada e meus olhos ardiam, mesmo eu fazendo força para fechá-los, tentando fazer tudo passar.
A ideia de que ele não pudesse mais me amar era insuportável; o pensamento de ser descartável era apavorante.
As fotos que recebi pelo correio em meu trabalho já não mais existiam, porém, elas estavam bem vivas em minha mente. Era tudo o que eu tinha nos pensamentos. Segundo o envelope, "um presente de Natal". Joseph atracado com aquela vadia de vestido azul, curto, colado no corpo, passando a mão por suas coxas. Fazendo o que costumávamos fazer quando começamos a namorar, e nós amávamos tudo aquilo, porque nos fazia sentir vivos. Será que eu não o fazia mais se sentir assim? Doía pensar nisso, porque eu me sentia completa e viva toda vez que o tocava.
Eu sabia quem havia me mandado aquelas fotos, não tinha dúvidas: Marco, o marido dela. Ele sempre fora ciumento demais e já havia contratado um detetive particular uma vez. E não era a primeira vez que ele fora traído; inclusive, da primeira vez, ele deixara o outro internado, depois de uma luta feia. Mas eu sabia que ele não faria isso com Joseph, porque, pra começar, eles eram amigos de infância.
Mas Joseph fez isso com ele.
Comigo.
Com o nosso casamento.
Levantei do sofá, decidida. Uma coisa que sempre deixamos claro um pro outro era que não suportaríamos uma traição. E, por dez anos, isso nunca havia acontecido. Ou havia e eu não sabia? Quem poderia me provar o contrário? Agora, ele estava deitado em nossa cama, como se nada tivesse acontecido, mesmo após manchar nossa relação. E eu não aguentava. Justo tão perto de uma data tão especial para mim, como ele sabia que era o Natal. Não só por causa de nosso aniversário de casamento, mas sempre fora um dia mágico pra mim, além de ser data de falecimento de meu avô.
Já me tentei muito, no começo do namoro, principalmente porque meu ex vinha sempre atrás de mim, e mesmo assim, nunca nem pensei em traí-lo, de fato. E ele não só pensou em me trair, como pensou em me trair com minha amiga, mulher de seu melhor amigo. O que havia acontecido conosco?
A imagem dos dois fazendo sexo em cima de nossa mesa de jantar e no sofá de seu trabalho me deixou enjoada. Felizmente, já não havia mais nada para colocar pra fora, visto que eu não comia há horas, desde que havia recebido as fotos. Minha cabeça latejava, enquanto milhões de pensamentos me invadiam. Mas algo dentro de mim gritava "traidor!".
E eu sabia que não poderia deixar isso impune.
Com o rosto inchado, olhos ardendo, cabeça latejando de dor e sentindo nojo de mim mesma, mas principalmente de Joseph, fui até a cozinha, abrindo a segunda gaveta do armário. Tirei de lá o facão de churrasco. Observei o reflexo de meus olhos ali e tudo que eu vi foram olhos vazios, de um espírito quebrado, morto. Ele fez isso comigo.
Peguei o afiador e comecei a passar a faca por ele rapidamente, com força, deixando-a o mais afiada possível. Meu coração, meu espírito, ambos quebrados em mil e esfaqueados por Joseph, quando tudo o que fiz, foi satisfazer seus desejos, dar-lhe todo o meu amor, de corpo e alma. E ele brincou com isso, como brincava com menininhas na adolescência. Mas agora ele tinha consciência do que fazia, não era mais inconsequente.
Já suada pelo movimento repetitivo, passei a ponta do dedo pela faca, de leve, e sangue brotou do pequeno corte. Era suficiente. Se ele achava que podia me apunhalar pelas costas, sem consequência nenhuma, estava enganado. Eu não era idiota.
Caminhando até o quarto, minhas pernas fraquejaram. Mas eu não podia ser fraca, afinal, ele não pensou duas vezes antes de fazer o que fez comigo. Tudo que eu podia sentir por ele, agora, era raiva. Ódio. Não dizem que o amor e ódio andam lado a lado? Poucos sabem o quão tênue é a linha que separa os dois.
Abri a porta e lá estava ele, deitado, dormindo silenciosamente. Por um momento, meu coração palpitou, dizendo que ainda o amava. Uma parte ainda o amava. Mas meu cérebro jogou em minha frente a nossa conversa de mais cedo...
"- Fiquei sabendo que Annabeth passou pelo seu escritório essa semana. Você a viu? Sinto saudade dela. - comentei inocentemente, tomando um gole de meu café. Ele me olhou de canto de olho.
- Não... Deve ter ido para encontrar a Lizzie. Elas são amigas, não são? - comentou, enquanto tirava seu pão da chapa.
- Hm, é, são. Mas ela é do seu andar, pensei que poderia ter visto...
- Não! - ele me cortou. - Eu não a vi, Demetria. A última vez que encontrei com Annabeth foi no seu aniversário do ano passado, assim como você."
O modo como ele me respondeu o entregou e ele mal sabia disso. Mesmo se eu não tivesse recebido as malditas fotos, mesmo que eu não soubesse do caso de mais de mês dos dois, eu iria saber que havia algo errado com aquela conversa. Eu o conhecia como a palma da minha mão... Ou imaginava conhecer, visto que nunca esperaria tal atitude dele.
I gave you my heart, you ripped it apart, like wrapping paper trash...
A televisão ligada na MTV mostrava o clipe de All Time Low. A vida era feita de coincidências...
They say I'm losing my mind, I thought that for a while.
Aproximei-me da cama. Não, eu não estava perdendo a minha cabeça. Eu estava perdendo o amor da minha vida, aquele a quem eu dei meu coração e que preferiu brincar com ele, ao invés de cuidar. E eu sabia que eu não poderia viver com isso. E eu não queria que ele vivesse com isso.
Sentei-me na beirada e assisti-o dar um suspiro.
Now, I hope you are happy with your self, cause I'm not laughing. Don't you think it's kind of crappy what you did this holiday?
Cantei baixinho junto com Stuart e deixei que as últimas lágrimas caíssem de meus olhos. Não poderia aguentar muito mais... A dor que eu sentia pela traição, pelo modo que ele me tratou e como agiu, era muito maior do que qualquer outra coisa, muito maior do que o amor que um dia senti e, infelizmente, ainda sentia por ele.
Coloquei a ponta da faca em contato com seu peito nu, na direção do coração.
I gave you my all, but our love hit a wall now.
Fechando os olhos e dando um soluço alto, com o peito ardendo em dor e desespero, juntei todo o resto de minhas forças e afundei a faca em seu peito. Chorando alto mais uma vez naquele dia, tudo o que fiz foi assisti-lo acordar e dar-me um último olhar de desentendimento. Mas antes que eu pudesse pensar em me arrepender, as imagens me invadiram mais uma vez e eu me afastei da cama, agora ensaguentada.
Joseph brincou com o meu coração e com o meu amor mais do que devia, mais do que o permitido. Não magoou só a mim, como a seu melhor amigo. Decepcionou sua família e manchou uma relação de anos, algo maravilhoso.
Apunhalou-me pelas costas e eu o apunhalei de frente, direto no coração. Um presente de Natal...
Merry Christmas, bitch, kiss my ass.
UAU
ResponderExcluirFlor, eu sou a dona da fic :)
ResponderExcluirFico feliz que você tenha gostado, mas infelizmente ela está sob domínio do FanficObsession e é apenas lá que eu quero que permaneça. Se você quiser que suas amigas leiam a fic, pode indicar, a vontade, lembrando de nunca utilizar hotlink (link direto)!
Mas, por favor, para colocar fanfics em seu blog, peça primeiramente a autorização da escritora.
Aguardo a retirada do post,
Obrigada.
xx