domingo, 29 de abril de 2012

Capítulo 19 – Separação

Estávamos deitados no quarto abraçados, em silencio. A prata continuava se espalhando pelo meu sistema e me deixava cada vez mais fraco, eu não podia fazer nada pra nos tirar daquela situação. Ela ainda chorava em silencio, tentando disfarçar sua tristeza pra não me preocupar, aquilo partia meu coração, estava acabando comigo. Era incrível como eles tinham o poder de acabar com a minha felicidade em um instante, em um minuto eu teria um filho com a mulher que eu amo, no outro eu estava trancado em um quarto esperando que matassem aquilo que eu mais amava na vida. Não podia ser real... 

_Canta pra mim?_ pedi de repente.
_Como é?_ me olhou confusa.
_Eu adoro quando você canta... Tem a voz tão linda. 

Ela sorriu, eu adorava quando ela cantava pra mim, tinha a voz mais bonita que a de um anjo.

When my time comes forget the wrong that I've done
Quando minha hora chegar esqueça os erros que cometi
Help me leave behind some reasons to be missed
Ajude-me a deixar pra trás algumas razões que deixem saudades
Don't resent me, when you're feeling empty
Não fique ressentido comigo, quando se sentir vazia
Keep me in your memory, leave out all the rest
Mantenha-me em sua memória, deixe todo o resto pra fora
Leave out all the rest
deixe todo o resto pra fora
Forgetting all the hurt inside, you've learned to hide so well
Esquecendo, toda a ferida interior que você tem aprendido a esconder tão bem
Pretending someone else can come and save me from myself
Fingindo, que alguém diferente pode vir e me salvar de mim mesmo
I can't be who you are
Eu não posso ser quem você é


Mais ela não terminou, apenas voltou a chorar, se apertando mais contra meu corpo, escondendo o rosto em meu ombro.

_Por favor, não chore.
_Desculpe.
_Os anjos não deveriam chorar.
_Eu não sou um anjo Joe.
_É o meu anjo, e eu não quero te ver chorar.

Antes de podermos falar mais alguma coisa a porta abriu. Paradas nos encarando estavam Taylor, Ashley, Selena e... Vanessa. O sorriso no rosto da Taylor e da Vanessa me encheu de raiva, eu ainda ia partir aquelas duas no meio...

_Você vem com agente_ Taylor falou em um tom rude.
_Ir pra onde?_ Demi perguntou.
_Não interessa, só vem logo.
_Ela não vai a lugar algum_ avisei segurando o braço o dela.
_Não se faz de difícil Joe, solta ela_ Vanessa pediu.
_Não, ela não vai sair daqui.
_Olha aqui...

Taylor ia partir pra cima de mim mais Selena se enfiou na frente.

_Deixa que eu resolvo_ disse.
_Ta bem_ abriu um falso sorriso.
Selena se aproximou de nós com um sorriso triste no rosto e estendeu a mão pra Demi, a convidando a se levantar, ela olhou confusa pra mim sem saber o que fazer.

_Vem comigo Demi_ Selena pediu.
_Eu já disse que ela não vai a lugar algum_ falei.
_Por favor, é melhor assim.
_Não, não vou deixar ninguém machucá-la e...
_Ninguém vai machucá-la Joe, eu prometo.
_Não acredito.
_Vocês não confiam em mim?

Era uma boa pergunta, Selena parecia confiável mais depois do Nick eu não sabia o que pensar.

_Porque eu deveria?
_Eu nunca machucaria a Demi, não deixaria que encostassem nela, você sabe disso. Não sabe Demi?
_Eu confio em você_ ela sorriu.
_Então vem comigo.
_Não, por favor, não tira ela de mim_ implorei.
_Vai ficar tudo bem. Mais ela precisa ir agora.
_Me deixa ir, vai ser melhor assim_ pediu.
_Da pra parar com essa melação? Ta me dando náuseas_ Vanessa disse e Taylor riu.
_Por favor?_ pediu mais uma vez.

Ela levantou da cama devagar, seu braço saindo da minha mão. Ela segurou a mão da Selena e foi andando pra fora do quarto do jeito que estava, vestida só na minha blusa. Taylor se aproximou de mim enquanto eu estava distraído e injetou mais daquela coisa em mim.

_Seu remédio cunhadinho_ sorriu.
_Você é ridícula sabia disso?
_Você não me conhece.

Ela se afastou de mim e foi até a Demi, a segurou pelos cabelos e começou a arrastá-la pra fora do quarto, ela gritou de dor. Eu tentei ajudar mais a imbecil da Vanessa fechou a porta na minha cara antes que eu pudesse. Vira-lata imbecil, eles iam todos me pagar por isso.
Narrado pela Demi

Taylor me arrastou pelos cabelos pra fora do quarto e me jogou no chão no meio do corredor.

_Esse é o seu lugar Demi, o chão... É isso que você merece_ gritou.
_Você enlouqueceu?_ Selena gritou_ o que você pensa que esta fazendo?
_O que é em? Virou defensora dos pobres e oprimidos? Se toca, você é tão ridícula quanto ela.
_A única ridícula aqui é você. Você não presta, é podre, por isso que ninguém gosta de você.
_Ha...

A discussão entre as duas continuou, a Ashley e a Vanessa tentaram separar mais não deu muito certo, eu tentei ignorar, fingir que não estava acontecendo, aquilo não podia ser real. Então minha barriga começou a doer, parecia que tinha algo me rasgando por dentro, eu tentei não gritar mais também foi em vão. Então senti uma mão em mim, me virando... Era o Nick.

_Deixa eu te ajudar_ pediu.
_Eu não quero a sua ajuda_ tentei tirar sua mão de mim.
_Não se faz de difícil Demi.
_Me solta_ gritei.
_Calma ta?

Ele me pegou e eu não pude fazer nada, tentei me soltar mais em vão, a dor que eu sentia não me deixou reagir, ele me levou calmamente pelo corredor até um quarto vazio e me deitou delicadamente na cama, então se virou pra me olhar.

_Você ta bem?
_Vai embora.
_Demi...
_Me deixa, eu não quero olhar na sua cara, vai embora.
_Eu sinto muito.
_Não me interessa, vai embora.

Senti ele estender a mão pra me tocar mais então recuar e ir embora, as lágrimas desceram sem parar quando a porta se fechou atrás de mim. Inferno. Pouco tempo depois Taylor entrou no quarto sorrindo, eu tinha vontade de rasgar a cara dela. Ela se aproximou sem dizer nada e pegou meu braço, eu estava sentada, ela os amarrou na cama.
_Confortável?_ sorriu.
_Vai pro inferno.
_Ah maninha, todos nós vamos, só que você conseguiu a passagem antes de mim.
_Você ta adorando isso né?
_Sempre foi meu sonho poder te matar, e agora vai se realizar.
_Eu vou morrer, mais não vai ser você que...
_Para com isso, eu sei que você viu que quem acende o fogo sou eu.
_O papai não deixaria...
_Ele não é seu pai e sim ele deixou, eu vou queimar você viva. Não é demais?

Eu me segurei pra não pirar, não acreditava que ele tinha permitido isso.

_Sabe que você também não é filha dele né? Já que ele era humano.
_Sei sim. Mais não fui eu que o mordi e transformei num monstro.
_Não te incomoda nem um pouco ele ter mentido pra nós a vida toda?
_Acho que incomodaria mais se eu não estivesse tão feliz de saber que você não é minha irmã.
_Você me odeia tanto assim?
_Você não faz ideia.
_E eu que tinha esperanças de que...
_Você é tão patética. É a vergonha da nossa família. Isso é só o que você merece. Você procurou por isso e agora vai ter o que merece.
_Vai... Pro... Inferno.
_Eu vou te encontrar por lá_ sorriu.

Então saiu batendo a porta. Estava acontecendo, ia ser como eu previ e cada vez mais eu acreditava que ninguém ia poder impedir. Esse seria o meu fim.
Narrado pelo Joe

Me sentia cada vez mais fraco e inútil, não tinha forças nem pra me levantar da cama. Era como um pesadelo que depois de se repetir inúmeras vezes se tornava real. Ouvi a porta se abrir, mais não queria olhar pra ver quem era.

_Oi_ ouvi a voz dizer.
_Selena?
_Você ta bem?_ se sentou a minha frente.
_O que você acha? Se essa porcaria que vocês injetaram em mim não me matar... A tristeza mata.
_As dozes na quantidade certa não são suficientes pra matar, você vai ficar bem.
_Ótimo, então eu vou morrer de tristeza.
_Joe, eu sinto muito pelo Nick, mais eu não sou como ele, eu vou fazer o possível pra ajudar vocês.
_Obrigada, minha vida não teria sido a mesma sem você pra interromper nosso romance com suas ligações. Ou seus conselhos e... Guardar nossos segredos.
Ela deu um sorriso triste_ Eu ainda vou perturbar muito vocês.
_Eu já estou começando a duvidar.
_Não fala assim.
_Cadê ela?
_Esta num quarto vazio, Marcus achou que seria melhor separar vocês agora. E eu também.
_Vocês acharam é?_ abri um falso sorriso.
_Vai ser mais fácil ajudar vocês assim.
_Tanto faz, só me deixa mofar em paz ta bem?
_Você não sabe como me dói te ver assim_ abaixou a cabeça entristecida.
_Dói em mim também.
_Selena_ Nick chamou da porta.
_Eu tenho que ir, mais... Eu prometo que vou ajudar vocês.
_Obrigada por se importar.

Ela levantou da cama sem vontade e saiu do quarto batendo a porta, ouvi os gritos do lado de fora do quarto mais apenas fechei os olhos e tentei ignorar. Já bastava pra mim os meus problemas, não queria ouvir os dos outros, ainda mais se era culpa minha.
.Narrado pela autora

Selena saiu do quarto batendo a porta e olhou para o namorado irritada.

_Você não devia estar la dentro_ repreendeu.
_E quem é você pra me dizer o que eu devo ou não fazer? 
_Como é? 
_Como você fica assim tão calmo? Estão prestes a matar a Demi.
_Ela fez por merecer.
_Ela fez por merecer?_ repetiu indignada_ você ouve o que esta dizendo? 
_Eu sei muito bem o que digo.
_Eles são nossos amigos Nick, não é possível que você não se importe.
_Ela é uma ameaça pra nós Selly... Faço isso pro nosso bem. 
_Não me chama de Selly. E não diga que vai matá-la pro meu bem.
_Você precisa entender que...
_Eu já entendi_ interrompeu_ Eu que achei que te conhecesse melhor que a mim mesma.

Ela deu as costas pra ir embora mais ele segurou seu braço.

_Me solta_ puxou o braço_ não encosta em mim.
_Amor...
_Amor uma ova. Acabou Nicholas, nunca mais fale comigo.
_O que? Mais...
_Se você quizer uma namorada, vai atrás da Taylor, vocês são exatamente iguais, uns hipócritas, se merecem_ cuspiu as palavras_ Eu odeio você.

Ela não podia chorar, pois era uma transformada, mais naquele momento sentiu como se pudesse. Tantos anos ao lado de ágüem e de repente descobrir que não o conhecia tão bem quanto pensava.


sábado, 28 de abril de 2012

Capítulo 18 – Agonia

_Você tem certeza que isso é necessário?
_Tenho, você sabe o perigo que essa criança representa.
_Ela é sua filha, não significa nada?
_Você sabe muito bem que ela não é minha filha Paul. Por que é tão importante pra você? 
_O meu filho não vai suportar isso, ele vai morrer sem ela.
_Eu sinto muito por ele, mais isso tudo começou quando você o trouxe aqui a meses atrás pra matar ela. Agora o que devia ter sido feito a meses vai ser feito agora.
_Então é minha culpa? E isso que esta dizendo?
_Não, mais é bom que o Joe aprenda a viver com isso, pois se não...
_Se não o que?
_Vamos ter que matar ele também. Você sabe que é necessário.
_Eu... Eu sei_ concordou.

Eles se entreolharam por um momento até que Daiana entrou no escritório feito uma louca.

_Marcus o que você pensa que esta fazendo?
_Agora não Daiana.
_Ah, você vai me ouvir. Ela é nossa filha, você não pode fazer isso.
_Ela não é nossa filha, ela destruiu nossa vida.
_Por que você ta fazendo isso? O que foi que te deu? Eu achei que você tivesse superado isso.
_Não finja que você não se importa.
_Eu não me importo. E se você encostar um único dedo na minha filha, eu nunca mais olho na sua cara ta ouvindo?_ ameaçou.
_Você prefere ela a mim? Me deixaria por causa dela?
_Sem nem pensar duas vezes_ garantiu.

Lhe lançou um olhar assassino e saiu batendo a porta.

_É amigo, você esta com sérios problemas_ Paul disse.
_Eu não sou o único, aposto que sua esposa também não vai gostar do que vamos fazer.
_Eu não vou matar o meu filho.
_Por enquanto não é necessário, mais e depois? 
_Eu prefiro ignorar essa possibilidade.
_Pois eu não ignoro nenhuma possibilidade, e se ele não se controlar, vamos ter duas mortes ao invés de uma.

Enquanto isso no quarto da Demi...

_Joe, para com isso_ pediu pela milésima vez.
_Eu não vou deixar eles fazerem isso.
_Não adianta, eles não vão abrir.
_Então faz alguma coisa, derruba a porta_ sugeriu.
_Você sabe que eu não posso. Meus poderes não funcionam desde que engravidei.
_Inferno_ socou a porta zangado.

Ele se virou para olhá-la e viu as lágrimas que desciam por seu rosto de anjo. Sentou a sua frente e tirou o pequeno objeto do bolso.

_Acho que isso é seu_ mostrou o cordão a ela.
_Você o encontrou_ sorriu.
_É, ve se não perde mais_ brincou.

Colocou no pescoço dela, ela segurou com força e o olhou agoniada.

_Não me olha assim, você parte meu coração.
_Eu nunca pensei que chegaríamos a esse ponto. Estava tão feliz com essa historia de ser mãe.
_Você ainda vai ser, e eu vou ganhar cem pratas quando nascer e for uma menina.
_Eu te amo tanto. Acho que essa é nossa trágica historia.
_Não vai te acontecer nada. Eu não vou deixar.
_Eu não tenho medo de morrer_ sorriu_ já vivi tempo demais. A única coisa que me preocupa é perder você.
_Você não vai me perder, por favor, para com isso_ implorou, deixando que uma lágrima descesse por seu rosto.
_Me perdoa por te fazer passar por isso.
_Demi.

Ele a abraçou apertado, deixando que a tristeza e angustia tomassem conta de seu corpo, as lagrimas desceram sem permissão, aquela agonia não ia acabar? O silencio permaneceu por vários minutos até que a porta do quarto se abriu.

_Nick? Graças a Deus_ Joe sorriu_ você precisa ajudar agente.
_Olha, fica calmo ta?
_Você vai ajudar agente a sair daqui não vai?
_Eu... Não posso.
_Como assim não pode?_ Demi perguntou confusa.
_Você traiu a confiança de todos Demi, essa criança que você esta esperando é um perigo pra todos nós, você devia saber disso.
_Você ta do lado deles?_ Joe perguntou indignado.
_Eu estou do lado que é melhor pra todos.

Ele fez um sinal com a mão e dois vampiros entraram, seguraram os braços do Joe assim como da primeira vez e Nick injetou o veneno nele.

_Isso é pro seu bem.
_Essa é a solução de vocês, me envenenar?
_É pra que você não faça nenhuma besteira.
_Eu achei que você fosse meu amigo.
_Eu sou, é por isso que estou fazendo isso. É pro bem de todos... Ela tem que morrer.
_Você é um hipócrita, assim como todos os outros_ Falou irritado.
_Depois de tudo que passamos? Como você tem coragem?_ Demi sussurrou.
_Eu não vou arriscar minha vida por um erro seu. Sinto muito.

Guardou a seringa e saiu do quarto trancando a porta.

_Está todo mundo contra nós.
_Não precisamos dele. O Nick é um traidor.
_Eu já devia saber que não ia ter ninguém pra nos defender.
_Desculpa?
_Não é culpa sua Joe.
_Eu daria qualquer coisa pra que isso não tivesse que acontecer.
_Eu sei que sim. Mas agora não adianta mais pensar no que poderíamos ter feito. Eu não quero perder nenhum minuto que ainda tenho com você.
_Ainda vamos ter muito tempo juntos.
_Eu não tenho esperanças.
_Para com isso_ reclamou.

Se levantou da cama exaltado, o pessimismo de Demi só fazia aumentar sua agonia, não conseguiu segurar as lágrimas que insistiam em descer. Levou as mãos ao rosto tentando esconder a tristeza, ela segurou sua mão e o puxou fazendo com que ele sentasse novamente.

_Desculpa por isso, mais é a verdade.
_Eu não me conformo...
_Para, eu não quero perder tempo discutindo.

Sentou no colo dele, colocando as pernas uma em cada lado de sua cintura, segurou o rosto dele em suas mãos e o beijou. Ele estava inquieto, incomodado com a situação, a afastou delicadamente.

_Eu não posso_ sussurrou.
_Ta tudo bem. Só, esqueça o resto, somos só eu e você.

Fitou a profundidade de seus olhos por um momento que pareceu não ter fim, então a segurou firme contra seu corpo e a jogou na cama sem cuidado, selando seus lábios nos dela desesperadamente, como se aquele fosse o último beijo, e talvez fosse. Naquele momento não havia tempo e nem motivos pra pensar nos problemas, afinal eles talvez não tivessem outra oportunidade de estar juntos de novo.

Na casa dos lobisomens...

_Isso não vai dar certo, ele não vai suportar.
_Eu sei querida, mais é necessário.
_Pai, vocês não podem fazer isso, é uma loucura_ Kevin protestou.
_É o melhor pra todos, e preciso que você esteja lá na hora, pra ajudar a acalmar o Joe, se não...
_Se não o que? Vai matá-lo também?
_Se for preciso. Agora reúna todos, temos que ir a casa dos vampiros.
_Vocês vão transformar isso num show?
_É a tradição deles, é assim que tem que ser.
_Eu não acredito nisso, mãe fala alguma coisa.
_Eu...
_Não sou eu que estou fazendo isso, é o Marcus.
_É mais não esta fazendo nada pra impedir. Se pensar assim faz você se sentir melhor... Então tudo bem, mais eu não vou participar disso_ deu as costas irritado.
_Kevin, volta aqui.
_Me esquece_ gritou.
_Inferno.

Narrado pela Demi

Estávamos deitados na cama abraçados, o silencio mortal permanecia. Era tão bom estar em seus braços, me sentia segura.

_Vou sentir falta disso.
_Do que?
_Ficar assim, abraçada com você. Eu gostaria de poder ficar aqui pra sempre.
_Ainda teremos muito tempo pra fazer isso.
Eu suspirei certa de que isso não aconteceria.
_Demi...
_Não importa o que vai acontecer agora, depois de hoje as coisas nunca mais serão iguais. Você sabe disso muito bem.
_Vai acabar logo, nós vamos dar um jeito.
_Nenhum dos finais possíveis pra isso me agrada. Em todos eles eu saio perdendo.
_Como assim?_ ele questionou confuso.
_Eu posso morrer agora...
_Isso não vai acontecer_ me interrompeu.
_Eu posso sair daqui viva, mais provavelmente não sobreviver à gravidez.
_Demi...
_Ou eu posso ter essa criança e perder tudo, minha família, meus amigos... E ser perseguida pelo resto da vida, nunca mais ter paz.
_Ou Marcus pode desistir dessa loucura e nos deixar em paz. Ai poderemos ter nossa vida de volta.
_Essa possibilidade não esta na minha lista_ confessei.
_Mais esta na minha.

Eu bufei zangada, não seria fácil lhe dar com isso, ele não entenderia. Eu realmente não tinha medo de morrer, mais não queria ter que deixá-lo, ele não sobreviveria sem mim.

No escritório...

_Mandou me chamar?
_Sim Selena, eu preciso que você me faça um favor.
_Favor? Pra você? Porque eu deveria?
_Porque eu te dei abrigo e te criei como uma filha.
_Quem cuidou de mim foi a Demi, não você. E por acaso você pretende matá-la em algumas horas.
_É uma coisa simples_ insistiu.
_O que?
_Quero que você va no quarto e a tire de lá. Leve-a pro quarto vazio.
_Porque você mesmo não faz isso, ou manda um dos seus?
_Porque ela confia em você. Via evitar um escândalo, uma confusão.
_Eu não vou enganá-la, não me peça isso.
_Eu não quero que a engane, ela sabe muito bem o que vai acontecer. So quero separar aqueles dois enquanto ainda da tempo, depois vai ser pior...
_E devia te mandar ir pro inferno.
_Não vai?
_Não. Eu vou fazer isso, mais porque acho que seja melhor assim. Não por você.
_Ótimo. Obrigada.
_Não me agradeça.

Deu as costas e saiu, deixando ele sozinho.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Capítulo 17 – Desespero


Estava cansada daquela palhaçada, não ia ficar servindo de brinquedo pra ela o tempo todo. Arranquei a agulha que ela enfiara no meu braço ignorando a dor que isso causou, levantei da cama e com um pouco de dificuldade fiquei em pé. Andei na direção da enorme porta, por incrível que pareça ela estava aberta.

_Não custa nada tentar_ sussurrei pra mim mesma_ já estou ferrada mesmo.

Abri a porta confiante, pior do que estava à situação não podia ficar. Comecei a correr pelos corredores enormes do lugar sem saber exatamente pra onde ir. Então dois vampiros enormes apareceram na minha frente junto com a bruaca. 

_Aonde pensa que vai?_ ela perguntou.
_Não chega perto de mim_ avisei.
_Ou o que?_ sorriu.
_Eu... Eu...
_Muito engraçado_ riu.

Um deles veio na minha direção sem se dar ao trabalho de correr. Antes que eu tentasse fazer alguma coisa senti uma dor aguda na minha cabeça, me ajoelhei no chão e levei as mãos à cabeça querendo que aquilo passasse, estava acontecendo de novo. Antes de conseguir encostar em mim um deles voou longe, flutuando no ar, ficando preso ao teto. O outro olhou assustado mais continuou vindo, até que caiu no chão e começou a gritar de dor.

_Para com isso_ implorou.
_Eu não consigo.
_Interessante_ Trish falou.
_Sai de perto de mim.
_Tudo bem_ sorriu.

Ela se afastou de mim sem protestar, eu estranhei aquilo, mais quem se importava? Me forcei a levantar do lugar, a ficar lúcida, eu queria que o Joe estivesse comigo pra me ajudar. Continuei correndo até chegar à saída, ainda podia ouvir os gritos de todos lá dentro, corri pelo meio das árvores até tropeçar em alguma coisa e cair no chão. Tudo ficou embaçado e então eu não estava mais lá, agora só aquela visão dominava minha mente, aquela que havia se repetido durante meses, a única diferença é que agora eu podia ver claramente, podia ver todos os rostos. Agora eu sabia quem estava queimando... Era eu.

Narrado pelo Joe

Já haviam se passado horas que estávamos atrás dela e nada, mais de um dia já se fora desde que ela desapareceu, eu comecei a ficar desesperado. Será que teria acontecido algo grave com ela? Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi um grito agonizante vindo do meio das árvores. Corri o mais rápido que pude atrás do som assustador e encontrei a Demi caída no chão agonizando, me abaixei ao lado dela.

_Demi amor_ abracei ela.
_Não_ gritou aterrorizada.
_Ta tudo bem.

Ela se debateu nos meus braços tentando se soltar, seus olhos estavam brancos e as lágrimas desciam sem parar. Era outra visão, tentei acalmá-la, a fazer ficar quieta mais se debatia sem parar, seus gritos estavam me deixando ainda mais nervoso.

_Demi, calma_ segurei ela com força, impedindo que se mexesse.
_Não, para por favor_ gritou ainda mais alto.
_Ta tudo bem, é só uma visão. Demi olha pra mim, você precisa se acalmar.
_Não.
_Shh, ta tudo bem.

Ela foi se acalmando aos poucos, parou de gritar e só permaneceu o choro, seus olhos foram recuperando lentamente a cor e então ela me olhou assustada.

_Demi?
_Joe_ sussurrou quase inaudivelmente.
_Ta tudo bem, você ta comigo agora_ abracei apertado.
_Eu não quero morrer_ disse de repente_ eu não quero morrer.
_Não vai te acontecer nada, calma. Eu vou te levar pra casa.
_Não. Eu não quero_ me empurrou tentando se livrar de meu abraço_, por favor.
_Calma, ta tudo bem. Você ta segura, ninguém vai te machucar_ garanti_ você precisa descansar, esta fraca.
_Não_ sussurrou mais uma vez_ por favor, não me leva pra lá, eu não quero morrer.
_Calma.

Eu a peguei no colo, a levantando facilmente do chão, ela tentou se livrar do meu abraço mais uma vez, mais não teve forças e acabou desmaiando em meus braços.

_Vai ficar tudo bem_ sussurrei e dei um beijo em sua testa.

A Selena apareceu do nada, como um fantasma e sorriu ao ver Demi em meus braços.

_Graças a Deus, ela ta bem? Eu ouvi os gritos.
_Foi outra visão, ela tava muito assustada.
_Mais ela ta bem?
_Só esta um pouco fraca. Vou levar ela pra casa.
_Não quer ajuda? Vamos chegar mais rápido se eu a levar, assim você pode se transformar.
_É, pode ser.

Entreguei a Demi cuidadosamente a ela e então me transformei, chegaríamos mais rápido assim. Em questão de minutos estávamos na casa dos vampiros, Selena me entregou a Demi e então abriu o portão pra que passássemos. Marcus e mais seis vampiros estavam parados do outro lado, parecia que iam sair pra algum lugar, eles nos olharam sérios.

_Eu a encontrei_ disse_ posso levá-la pro quarto ou...
_Pode_ Marcus disse sério_ Eu estava mesmo indo atrás dela.
_Mudou de ideia?
_Algo assim_ falou.

Eu estranhei a expressão séria de todos, o Nick parecia extremamente nervoso, culpado. Mais eu ignorei e levei Demi até o quarto, a deitei cuidadosamente na cama.

_Como ela ta?_ perguntou.
_Um pouco fraca, mais vai passar.
_Onde você a achou?
_No meio da floresta, estava tendo uma visão.
_Eu... Preciso resolver uma coisa, cuida dela.

Ele saiu do quarto nervoso e encostou a porta, eu me sentei na cama ao lado dela, esperando que acordasse, mesmo apagada seu rosto de anjo parecia aflito. Qual era o problema? Depois de um bom tempo ela abriu os olhos e sentou na cama assustada.

_Hei, ta tudo bem.
_Onde eu to?
_Em casa.
_Eu não...
_Calma amor, ta tudo bem agora, você ta segura.
_Joe, achei que não fosse mais te ver_ me abraçou apertado.
_Eu também, senti sua falta. O que foi que aconteceu, onde você tava?
_A Trish me seqüestrou_ se afastou pra me olhar_ me achou quando estava caçando.
_Ela te machucou?
_Não, só queria conversar. Eu tive tanto medo.

Ela me abraçou de novo, escondendo o rosto em meu ombro, ainda estava assustada. O pai dela apareceu então na porta, estava sério, apreensivo.

_Ela ta bem?_ perguntou a mim.
_Estou_ ela mesma respondeu.
_Onde você estava?
_Trish me seqüestrou, queria me contar umas coisas.
_O que ela falou pra você?
_Que vocês tiveram um caso, isso é verdade?
_É, mais já faz muito tempo.
_E você diz isso assim? Nessa tranqüilidade?
_Não tenho mais tempo nem vontade de mentir, acabou.
_Então é verdade que você não é meu pai?
Ele gelou no lugar, seus olhos se arregalaram.
_É verdade?_ ela insistiu.
_É. Você não é e nem nunca foi minha filha.
_Não_ ela começou a chorar.
_Marcus... _ eu tentei argumentar.
_É verdade que você esta grávida?_ ele perguntou em um tom autoritário.
Ela me olhou assustada_ Você contou pra ele?
_Eu não tive escolha.
_Então é verdade. Como você pode?
_Eu não queria, foi um acidente_ começou a chorar ainda mais.
_Agora vocês vão ter que arcar com as conseqüências.
_Do que você ta falando?
_Drake, Jake_ chamou.

Eu me levantei da cama sem entender, dois vampiros entraram no quarto e vieram na minha direção, segurando meus braços. O Nick veio atrás deles.

_O que vocês tão fazendo? Me solta.
_Eu sinto muito por isso_ Nick falou.
_O que você vai fazer?_ Demi perguntou.
_É pro bem de todos.

Ele tirou uma seringa do bolso, e sem pensar duas vezes injetou o liquido na minha veia. Os dois vampiros me soltaram e saíram do quarto junto com o Nick.

_Essa criança não pode nascer_ Marcus disse.
_Pai, não faz isso_ ela implorou.
_Você previu isso não foi?
_Por favor, eu sou sua filha, podemos resolver isso.
_Você não é minha filha_ disse em um tom cortante.

Ele deu as costas sem pena alguma e saiu trancando a porta do quarto por fora, eu fui na direção da porta e tentei abrir, mais não dava, comecei a bater nela com força, mais me senti estranhamente fraco e cansado.

_Abram a porta_ gritei.
_Joe.
_O que ta acontecendo? O que você previu? O que eles fizeram comigo?
_Lembra daquela visão que eu venho tendo a meses?
_O que isso tem haver?
_Aquela pessoa que queima viva... Sou eu.
_Isso é brincadeira né?
_As historias eram reais, eles não vão deixar essa criança nascer.
_Eles não podem fazer isso.
_Sim eles podem. E vão fazer, era por isso que eu não queria que eles soubessem.
_Não. Marcus não tem esse direito.
_Ele é meu pai...
_Não ele não é_ gritei exaltado.

Eu soltei aquilo sem pensar, o que eles pensavam que estavam fazendo? Eles não podiam machucá-la, ele não tinha esse direito. Ela me encarou seu rosto tão lindo estava completamente triste e agoniado.

_Isso não pode ser verdade_ falou.
_Ele mentiu pra você, mentiu pra todos nós.
_Eu não entendo... Porque ele fez isso?
_Eu...

Me sentei com ela na cama e contei a historia que ouvi mais cedo, me partiu o coração ver sua tristeza enquanto ouvia a história, ela começou a chorar desesperadamente.

_Isso não é verdade.
_É, ele confessou tudo pra mim e pra Selena, eu sinto muito.
_Então era por isso que ele tinha raiva de mim?
_É. Agora ele esta usando sua gravidez pra se vingar, não é certo.
_Se eu morrer não vai fazer a menor diferença pra ele.
_Você não vai morrer_ a interrompi.
_Vou sim, eles não vão deixar que eu saia daqui com vida. Eu vi isso, e todas as minhas visões se tornam verdade, você sabe.
_Não, eu não vou deixar. Essa vai ser a primeira visão que você teve errada. Ninguém vai machucar você e nem o nosso filho.

Eu levantei da cama irritado, eles não podiam fazer isso, eu não ia permitir, comecei a socar a porta mais não tinha força suficiente para derrubá-la. Tentei me transformar mais não consegui.

_O que eles fizeram comigo? Não consigo me transformar.
_Injetaram prata em você, não é suficiente pra matar mais inibe seus poderes, deixa você fraco e não consegue se transformar. É pra que você não fuja.
_Droga_ chutei a porta.
_Você não pode impedir, vai acontecer como eu previ. Eu vou morrer.





Galerinha cadê os coment's ???

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Capítulo 16 – Confissões






Ele respirou fundo várias vezes, parecia extremamente triste, como se quisesse chorar. Ajeitou-se na enorme cadeira e me encarou.

_Você vai explicar o que ta acontecendo?_ insisti.
_Era 20 de agosto de mil oitocentos e alguma coisa, já não me lembro mais. Era sábado, não tinha trabalho, então me despedi da minha esposa, peguei minha arma e sai pra caçar.
_Caçar? Armado?_ eu não estava entendendo.
_Peguei minha picape e então dirigi até a floresta_ continuou ignorando minha pergunta_ Não estava com muita sorte aquele dia, o único animal que apareceu conseguiu fugir, eu não era rápido o suficiente pra alcançá-lo. 
_Não era rápido?_ Selena também parecia confusa.
_Estava pronto pra ir embora quando ouvi um grito vindo do meio das árvores, devia ser alguém que foi atacado por um urso, ingênuo como eu era resolvi ajudar_ forçou um sorriso_ Corri pelas árvores pra tentar chegar a tempo, mais a cena que vi não era bem o que esperava... _ parou de falar de repente, seus olhos se arregalaram como se tivesse lembrado de algo assustador.
_O que você viu?_ não resisti a perguntar.
_Um homem caído no chão da selva, estava todo rasgado e tinha sangue pra todo lado. Sentada em cima dele tinha uma garotinha, devia ter uns cinco anos. Usava um vestido branco que estava coberto de sangue e tinha uma fita vermelha no cabelo. Achei que também estivesse ferida... Perdida.
_Quem era?_ Selena perguntou.
_Ela se virou pra me olhar, sua pele era branca como a neve, sua boca estava vermelha com o sangue, mais o que me assustou foram olhos. Eles eram diferentes, não tinham a bola do olho central, eram completamente pratas e pareciam brilhar.

Estremeci onde estava, conhecia bem aqueles olhos, eles me hipnotizaram a primeira vez que olhei dentro deles, fizeram a minha vida virar de cabeça pra baixo, eram o motivo de eu estar aqui, ouvindo isso.

_Era a Demi_ sussurrei.
_Eu estava pronto pra correr, estava morrendo de medo. Mais então ela me olhou e sorriu pra mim, um sorriso doce... Inocente_ sorriu levemente_ fiquei encantado com tamanha beleza. Cheguei mais perto, sem me dar conta do perigo, ela estendeu os braços me chamando e então a peguei no colo. Ela tocou meu rosto com suas mãos frias... Eu não podia deixá-la ali. Levei ela pra casa, então eu e minha esposa resolvemos que cuidaríamos dela, parecia tão frágil e inocente. Tinha um cordão de ouro no pescoço, gravado um nome... Demetria.
_Quer dizer que... Então é isso... Ela não é sua filha_ disse atônito.
_Ela ficou com agente, não comia nada, não dava trabalho, mais com o passar dos dias parecia ficar mais irritada. Eu e Daiana sentíamos como se fosse nossa filha de verdade. Exatamente um mês depois que a peguei aconteceu_ seu rosto estava agoniado.
_Aconteceu o que?_ Selena perguntou envolvida em sua confissão agonizante.
_Era meu aniversário, levantei cedo pra ver como ela estava. Quando entrei no quarto ela rugiu pra mim, e então voou no pescoço, senti uma dor terrível, mais consegui afastá-la de mim, ela correu em outra direção enquanto eu queimava no chão, era uma dor insuportável.
_Você era humano_ percebi espantado_ ela te transformou.
_Quando acordei percebi que estava diferente, procurei minha mulher e a encontrei agonizando no chão. A menina ainda estava lá olhando, sorrindo. Demorou pra que eu entendesse o que havia acontecido, demorou pra que nós nos acostumássemos. Mais hoje estamos aqui.

_Então é isso, era isso que vocês estavam escondendo dela.
_Fiz de tudo durante esses anos pra ignorar, pra esquecer, mais não dá, agora chega.
_Não foi culpa dela, ela era uma criança...
_ELA ME TRANSFORMOU NUM MONSTRO_ gritou_ ELA ACABOU COM A MINHA VIDA. EU NÃO AGUENTO MAIS TANTA MENTIRA.
_Você é louco_ disse_ eu que respeitava você.
_Isso é loucura_ Selena falou_ então esse tempo todo era tudo mentira?
_Agora vocês sabem.
_Não vai fazer nada? Não vai atrás dela?
_Por que eu deveria? Ela não é minha filha, nunca foi. E traiu toda confiança que depositei nela quando engravidou de você, de um cachorro.
_Já vi que não posso mesmo contar com você. A vida inteira Demi acreditou ser um monstro, mais o único monstro aqui é você. Hipócrita.

Cuspi as palavras e sai do escritório batendo a porta, não conseguia acreditar no que acabei de ouvir. Era tudo loucura, nada mais fazia sentido. Sai irritado pelo enorme portão, sentindo uma agonia que crescia aos poucos, como aquilo ia acabar?

_Joe_ Selena chamou de algum lugar.
_Selena_ me virei pra olhá-la.

Ela correu na minha direção e me abraçou, tão confusa quanto eu com tudo isso.

_Eu não sabia, mais agora tudo faz sentido.
_O que faz sentido?_ perguntei confuso.
_Eles diziam serem vampiros puros, mais não tinham sangue nas veias e o coração deles não batia. Eles eram diferentes da Demi, e agente sempre acreditou na mentira. Como fomos burros.
_Ele é um hipócrita imbecil. Como pode, depois de tudo...
_A questão é... Se a Demi não é filha deles então de onde ela veio?
_Isso não importa, o que importa não é de onde ela veio e sim aonde ela ta. Agente vai achar ela.
_Ela vai ficar arrasada quando souber.
_Vai ficar tudo bem. Agora agente tem que procurá-la. Você vem comigo?
_Claro.

Então nos separamos pra poder procurar melhor.

Narrado pela Demi

Quando abri meus olhos de novo estava em um lugar diferente. Um quarto completamente branco e vazio, exceto pela cama onde eu estava deitada e uma parafernália médica. Me sentei na cama meio confusa e percebi que tinha uma corrente prendendo um dos meus pés ao chão.

_Oi_ Trish apareceu na porta.
_Onde eu to?
_É onde eu faço minhas pesquisas. Não tem com o que se preocupar.
_Sabe, você podia ter me pedido, eu viria sem precisar me apagar_ disse passando a mão na cabeça, aquilo doía.
_Ta doendo não é? Sua situação não esta muito boa.
_O que você quer afinal?
_Essa criança que você esta esperando é única, não existe no mundo outra como ela e se essa criança nascer... Sobreviver... Eu quero poder participar.
_Por que eu? Por que matou todos os meus amigos? Pra que aquela guerra? O que você tem contra nós?
_C'est la faute de son père, il m'a forcé à le faire. (É culpa do seu pai, ele me obrigou a fazer isso)
_Como assim?
_Você não conhece seu pai, não sabe nada sobre ele, a não ser as mentiras que ele te conta.
_E o que você sabe sobre ele?
_Sei tudo. Sobre ele, sobre sua mãe... Sobre você.

Ela sorriu pra mim e pegou o celular, discou um número e pediu que alguém trouxesse algo que não entendi muito bem. O que ela sabia sobre minha família?

_Você devia ter uns seis anos quando conheci seu pai. Ele estava confuso, em uma fase ruim da vida dele. Eu o ajudei a superar, o ajudei a se controlar a ser alguém melhor.
_Melhor?
_Ele nem sempre foi assim, ele se alimentava dos humanos, fui eu que disse a ele que não precisava ser assim, eu ensinei ele a ser como eu.
_Você mata pessoas...
_Por culpa dele, eu não era assim.
_O que ele te fez?
_Agente passava muito tempo junto, acabamos nos apaixonando. Tivemos uma linda história juntos.
_O que? Você quer que eu acredite que você teve um romance com meu pai?
_É verdade, nós nos completávamos.

_É mentira, ele nunca faria isso com a minha mãe.
_Seu pai não é o santo que você pensa.
_Ele ama a minha mãe...
_Il m'aimait. Je l'aimais plus que tout au monde, a renoncé à tout pour lui.(Ele me amava. Eu o amei mais que tudo no mundo, desisti de tudo por ele) _ gritou irritada.
_Isso é mentira, meu pai nunca se envolveria com alguém como você.
_Eu era boa, mais ai ele me abandonou, disse que não podia enganar mais a esposa dele. Disse que amava de mais a filha e que não podia deixá-la. Il m'a quitté à cause de vous. (Ele me abandonou por sua causa). 
_Foi por isso que veio atrás de nós?
_Vingança. Eu queria tirar dele aquilo com o que ele mais se importava. Você. Mais isso não adianta mais, ele não vai te amar tanto assim quando souber da sua gravidez.
_Não pode ser_ deixei que uma lágrima descesse por meu rosto.
_Pois é. Esse é o seu pai. Um safado. E é por isso que não vou te matar, ele vai fazer isso por mim.
_Ele não me machucaria, sou filha dele.
_Não, não é.

Eu não estava mais entendendo nada, aquilo não podia ser verdade.

_Você nunca percebeu a diferença entre você e seu pai? É tão burra assim?
_Do que você ta falando?
_Marcus te encontrou no meio da selva, achou você bonitinha e te levou pra casa. Até que você surtou e mordeu ele e a querida esposa, transformando eles em monstros.
_O...
_É isso querida. Você acabou com a vida dos dois, acho que é por isso que eles não confiam muito em você. Eu estava lá pra ajudá-lo a superar e mesmo assim ele preferiu você. A monstrinha que o transformou, que destruiu a vida dele.
_É mentira_ eu disse aos prantos_ você esta mentindo.

Eu olhei pra ela sem entender, aquilo tudo era loucura, como meu pai pode fazer algo assim? O que ela queria, acabar com minha vida? Quando aquilo ia acabar? Antes que eu pudesse perguntar um dos guarda costas dela entrou trazendo junto com ele um humano. O jogou no chão e então saiu.

_Você deve estar com sede_ sorriu.
_O que é isso?

Ela pegou uma pequena faca e fez um corte no braço do homem que gritou de dor, o sangue dele escorreu, o cheiro me invadiu dolorosamente, não fazia idéia do quão sedenta eu estava até sentir aquele cheiro tentador. Eu rugi involuntariamente, tomada pela queimação, pela sede e me levantei no intuito de ir pra cima dele mais a corrente me parou.

_Não, não. Menina má.
_Por que faz isso comigo, não é minha culpa_ consegui dizer.
_É tudo culpa sua, e por ser tão malvada, não vai ganhar sangue.
_Por favor_ implorei_ estou morrendo de sede.
_Está?_ sorriu.

Ela sorriu e levantou o rosto do homem, aquilo só podia ser brincadeira.

_Você se lembra dele Demi? Sabe quem esse homem é?
_Michael Payne_ sussurrei sem acreditar.
_Você tem uma boa memória.
_Eu lembro de você_ ele falou assustado.
_Você tem raiva dele Demi? Você não tem vontade de matá-lo?
_Porque eu deveria?
_Foi por causa dele. Se ele não fosse um caloteiro, talvez você não tivesse esbarrado com o vira-lata aquela noite, não tivesse matado aquele homem. Talvez não estivesse grávida e abeira da morte.
_Não foi minha culpa, eu não fiz nada_ ele disse.
_Cala boca_ empurrou ele.
_Por favor... Para com isso_ implorei.
_Você ta morrendo de sede não esta? Você não quer experimentar o sangue dele?
_Não...
_Não ela não quer, me deixa ir.
_Bom, você deve estar com vergonha né? Vou deixar vocês sozinhos pra se resolverem_ sorriu.
_Não.

Ela fez mais um corte no pescoço dele e então saiu me deixando sozinha, seu cheiro me queimou por dentro, eu queria aquilo, eu precisava daquilo.

_Por favor, não me machuca_ pediu, estava completamente assustado.
_Cala boca_ sua voz estava me deixando ainda mais enlouquecida.
_Por favor, eu sinto muito se fiz alguma coisa que te deu problema, eu nunca mais vou ficar sem pagar, eu juro.
_Fica quieto imbecil_ falei com os dentes trincados.
_Por favor...
_CHEGA.

Eu perdi minha noção de vez e voei em cima dele, se não fosse a corrente nos meus pés eu teria conseguido, ele correu na direção da porta, batendo nela desesperado, implorando pra alguém abrir, eu fiz força contra a corrente, tentando arrebentá-la, deixando meu lado selvagem tomar conta.

_Por favor, para_ gritou desesperado.
_Sinto muito.

Foi a ultima coisa que eu disse. Não era hora pra ter princípios, se eu não me alimentasse morreria de sede. Fiz tanta força que a corrente arrebentou, Michael deu um grito de horror e então eu voei em seu pescoço, enfiando meus dentes em seu pescoço. Seu sangue desceu pela minha garganta, fresco, delicioso, me causando uma sensação de bem estar. Eu era uma assassina. Quando ela finalmente voltou eu estava jogada no chão, os olhos fechados, não queria ver o que havia feito. Não queria enxergar aquilo que eu tentei ignorar durante tantos anos... Eu era uma assassina.

_Então bonitinha, esta satisfeita?_ perguntou rindo.
Eu fiquei em silencio, não queria olhar pra cara dela, muito menos conversar.
_Vai me ignorar agora é? A culpa não é minha se você é uma bastarda, uma assassina monstruosa.
_Allez au diable. (Vai pro inferno)
_Prefere me xingar em francês? Tudo bem então.
_Você acha isso divertido né? Quer um conselho? Me mata logo, porque se eu sair daqui viva, eu vou atrás de você e te mato. Te acho até no inferno se for preciso.
_Nossa, isso foi uma ameaça? Haha_ riu_ agora que você esta satisfeita... Preciso de uma amostra do seu sangue.
_Como é?
_Eu quero saber o que tem em você, o que te torna tão diferente e especial, preciso saber por que você ainda esta viva. Porque a gravidez ainda não te matou.
_Haha. Me matar não é tão fácil quanto você pensa querida.
_Eu sei, e eu quero saber por quê.
Ela fez um gesto com a mão pra que os dois seguranças dela entrassem.
_Você vai bater na minha cabeça de novo?
_Não querida, mais é melhor você se comportar.
_Ou o que? Vai me bater?_ ri.

Ela apenas ficou me encarando, acho que não teve muita graça.

Capítulo 15 – Ameaças




Abri meus olhos devagar, minha cabeça doía, tudo estava embaçado. Tentei me mexer mais não consegui, foi só então que percebi que estava amarrada a uma cadeira. Abri mais os olhos e vi a Trish, sentada em uma cadeira a minha frente me observando com um sorrisinho no rosto, tinha uma arma nas mãos que ela rodava rapidamente.

_Bom dia dorminhoca.
_Onde eu estou?_ perguntei confusa.
_Na minha casa, ou melhor, esconderijo, graças a você e seus amiguinhos.
_Eu deveria me sentir culpada?_ sorri ironicamente.
_Você nunca perde essa sua marra né? Nem nas condições em que se encontra.
_O que você quer? Que eu trema de medo? Posso fazer se vai fazer você se sentir melhor.
_Me responde, seus poderes não estão funcionando muito bem né? Você não esta se regenerando como antes. O corte no seu braço é uma prova disso.
_O que isso tem haver?
_Me diga, nessas condições, o que você acha que te aconteceria se eu desse um tiro nessa sua carinha bonita e irritante? Acho que você ia morrer.

Eu me encolhi e parei de sorrir, acho que não acabaria bem, ela apontou a arma pra minha cabeça e apertou o gatilho, fechei os olhos na mesma hora mais nada aconteceu, só abri os olhos de novo quando ouvi sua risada alta.

_Ficou com medo agora bonitinha? Sorte a sua que a arma não esta carregada.
_Por que você não me mata logo? O que quer de mim?
_Te matar agora seria muito fácil, não teria a menor graça. E não é essa a minha intenção, pelo menos não por enquanto.
_Se não vai me matar, então o que eu to fazendo aqui?
_Eu já disse, eu quero conversar.
_Conversar sobre o que? Sobre aquilo que você fez comigo e com o Joe? Ou esse ultimo incidente?
_Você é bem rancorosa não é? Mais, você gostaria de saber o que foi aquilo que injetei em você?
_Era veneno?_ adivinhei.
_Não um veneno comum. Era uma experiência minha, DNA de lobisomem.
_DNA?

_Na linguagem popular é sangue. Aquilo que te fez contorcer de dor era o DNA do seu namoradinho.
_E porque você injetou aquilo em mim?
_Eu queria ver o que ia acontecer, já fiz experiência em humanos mais não deu muito certo. Agora me diga, se apenas algumas gotas do sangue do seu namorado te fizeram aquilo, o que você acha que a mistura do seu DNA com o dele vai dar?
_Uma linda criança_ respondi seca.
_Me deixa repetir a pergunta pois eu acho que você não entendeu. O que você acha que vai acontecer com você?
_Eu vou ser mãe, não é incrível?_ abri um sorriso de deboche.

Ela se materializou como um fantasma e apareceu abaixada na minha frente, seu rosto estava muito próximo do meu, ela estava furiosa.

_Você vai morrer_ sua voz era cortante.
_Você vai me matar? Pensei que só quisesse conversar_ mantive o tom de deboche, era mais fácil conversar com ela assim.
_Não, mais você não vai sobreviver a isso. Sabe aquelas historias que seu pai te contava quando você era criança? Eram todas verdade, fui eu que contei pra ele. Já houveram outras como você, que cometeram esse grave erro e conseguiram escapar da fogueira.
_E o que houve com elas?
_Não sobreviveram à gravidez, e é isso que vai acontecer com você, essa criança vai te rasgar de dentro pra fora.
_É o que você espera que aconteça?
_Não, é o que vai acontecer, você é diferente das outras, mais forte. Os sintomas demoraram mais pra te atingir, nesse estagio da gravidez todas as outras já estavam implorando pra morrer. Você ainda não viu nada, vai demorar mais, mais vai acontecer e você vai implorar pra que acabem com você.
_Você não me assusta.
_Não é de mim que você precisa ter medo_ sorriu vitoriosa.

Virou-se pros dois guarda costas sorrindo e começou a dar instruções pra eles em outra língua. Ela realmente pensava que eu era burra?

_Avancez et l'amener à une autre pièce. (Apaguem ela e levem pra outra sala)
_Pourquoi ne pas parler ma langue? Par hasard, a quelque chose à cacher de moi? (Por que não fala na minha língua? Por acaso tem algo a esconder de mim?) _ sorri.
_Você fala francês?_ perguntou meio cética.
_Assim como alemão, chinês, espanhol, italiano, japonês, russo e qualquer outra língua que você quizer, então se tiver algo pra falar, fala na minha cara.
_Toujours avec cette façon de difficile, il s'arrête quand on sait ce qui va arriver. (Sempre com esse jeito de durona, vai parar com isso quando souber o que vai te acontecer) _ sorriu.
_Si vous ne me tuez pas, pourquoi devrais-je avoir peur? (Se você não vai me matar, porque deveria ter medo?).
_Pourquoi la souffrance qui vous attend est bien pire que la mort. (Porque o sofrimento que te espera é muito pior que a morte).

Me olhou por mais um longo momento e então saiu da sala. Em seguida os dois guarda costas se aproximaram e bateram na minha cabeça, tudo ficou escuro novamente.

Narrado pelo Joe

Andamos pelo corredor rapidamente, sem dar bola pros olhares especulativos. Entrei no escritório de Marcus sem nem sequer bater, ele levantou da mesa espantado com nossa súbita aparição.

_O que vocês estão fazendo? Você enlouqueceu vira-lata? Como entra assim no meu escritório?
_É a Demi, ela sumiu.
_Ela não sumiu, so foi caçar. O seu irmão não te contou?
_Ela desapareceu, já faz horas que saiu, não atende o telefone.
_Estamos preocupados com ela_ Selena disse em um tom mais calmo.
_Ela está bem, Demi sabe se cuidar.
_Eu achei isso na floresta_ peguei o cordão da mão da Selena_ Ela não ia sair sem isso.
_Pode ter arrebentado_ disse ainda calmo.
_Foi o que eu disse_ Selena concordou com ele.
_Vocês podem parar com isso? Será que não vêem? Aconteceu alguma coisa com ela_ gritei irritado.
_Não há motivos pra se preocupar, Demi é a melhor de todas, a mais forte, sabe muito bem se defender, ela pode cuidar de si mesma_ sentou-se novamente.
_Não, ela não pode. Não nessas condições_ discordei.
_Que condições?

Selena enrijeceu ao meu lado e Marcus nos olhou com suspeita.

_Que condições?_ perguntou de novo quando não respondi.
_Joe não faz isso_ Selena advertiu.
_Eu preciso contar a ele.
_Contar o que?_ perguntou já irritado.
_Você não pode, ela vai matar você_ afirmou.
_O que vocês estão escondendo de mim.

Respirei fundo uma vez, ela realmente não gostaria de saber que contei ao pai dela, mais era necessário, era melhor contar a ele, Marcus saberia o que fazer. Eu me entenderia com ela depois... Eu esperava que sim.

_Fala logo vira-lata_ insistiu.
_Joe não_ Selena implorou.
_A Demi ta grávida_ disse de uma vez.
_O que?_ ele arregalou os olhos_ isso ai é brincadeira né?
_Não, é verdade. Ela ta esperando um filho meu.
_Não pode ser, vocês não fariam algo assim. Eu pedi pra que tomassem cuidado...
_Não foi de propósito... Só aconteceu. Mais ela ta mais fraca, não consegue usar os poderes, não esta se regenerando, nem consegue correr direito. Precisa ir atrás dela.
_Não pode ser_ sussurrou, estava atônito.
_Marcus, não vai fazer nada? Ela é sua filha...
_ELA NÃO É MINHA FILHA_ gritou de repente irritado.

Toda sua calma e paciência tinham sumido ali. Não parecia o mesmo Marcus de antes, ele nunca diria algo assim. Demi tinha razão de ter medo de sua reação.

_Como pode dizer algo assim? Foi só um acidente, mais isso não muda nada, ela é sua filha e...
_Não, ela não é_ me interrompeu.
_Do que esta falando?
_Ela não é e nem nunca foi minha filha. Eu cansei dessa palhaçada, eu aturei essa mentira por todos esses anos, mais vocês passaram dos limites.
_Eu não entendo_ Selena disse_ o que quer dizer com isso? Que mentira?
_Vocês cometeram um grave erro_ disse_ não deviam ter feito isso.

Do que ele estava falando? Senti algo estranho percorrer meu corpo, algo me dizia que aquela conversa não acabaria bem.


Capítulo 14 – Encurralada

Eu andei até o escritório do meu pai, o casaco ainda escondendo o ferimento quase curado. Abri a porta e entrei, Paul estava lá junto com o Kevin.

_Mandou chamar?
_Sim querida, tenho um trabalho pra você e pro e Kevin.
_E o que seria?
_Uma cobrança.
_Quem?
_Desmond Mayous, você deve lembrar do serviço que fizemos pra ele.
_Lembro sim.
_Ótimo, o Kevin vai te acompanhar_ Paul disse.
_Cadê o Joe?_ perguntei estranhado sua ausência, era sempre ele que me acompanhava nesses serviços.
_Fazendo a ronda, você não se importa se o Kevin for no lugar dele né?
_Se eu dissesse que sim não ia fazer diferença né? Vocês não ligam mesmo pro que acho.
_Demi...
_Vamos Kevin?_ interrompi.
_Claro.

O Kevin se transformou e nós começamos a correr na direção da cidade, eu se esforcei o máximo que pude pra poder acompanhá-lo, ele não pareceu estranhar a minha lerdeza. Apesar disso, chegamos rápido a casa do Desmond, entramos sem bater na porta, ele estava sentado no sofá lendo o Jornal.

_Oi Desmond_ eu disse.
_Ou_ levantou do sofá assustado.
_Oi, tava com saudade da gente?_ Kevin perguntou.
_O que vocês querem aqui?
_Que você pague o que deve.
_Eu... Eu...
_Chega de tanto eu. É só pegar o dinheiro e agente vai embora_ eu avisou.
_Ta bem, eu vou buscar, só um minuto.
_Agente não tem pressa_ sorri.

Ele andou até o quarto pra pegar a maleta que havia escondido no guarda roupa.

_Da uma checada pra ver se ele vai querer tapiar agente.
_Ta bem.

Eu me concentrei, tentando ler a mente dele mais eu não ouvia nada, nem um som. Forcei mais um pouco e comecei a sentir aquela dor de cabeça irritante, então respirei fundo e olhei pro Kevin me sentindo uma inútil.

_Eu não consigo ler a mente dele, você vai ter que conferir o dinheiro.
_Não consegue?
_Desculpa, eu... To precisando me alimentar_ menti.
_Tudo bem, sem problema, eu sempre fui bom na matemática_ sorriu amigavelmente.
_Valeu.

Desmond voltou com a maleta cheia, Kevin abriu e deu uma rápida conferida e viu que todo o dinheiro estava lá, então voltamos pro meio das árvores.

_Kevin, vai indo na frente, eu vou ficar e caçar.
_Ta, agente se ve depois, pode deixar que eu cuido da grana.
_Valeu.
_Até mais ver.

Andou pra mais longe e se transformou, carregando a maleta nos dentes. Eu me enfiei mais fundo na floresta e comecei a caçar, de repente senti um cheiro estranho, parei entre as árvores pra tentar ouvir alguma coisa e senti os passos leves atrás de mim.

Meu coração acelerou, não tinha um bom pressentimento sobre isso.

_Kevin?_ sussurrei.
_Tente outra vez_ a voz musical e ameaçadora me fez estremecer.
_Trish.
_Você é boa.

Me virei pra poder ver seu rosto, ela estava sorridente, algo me dizia que ela não estava ali apenas pra bater um papo comigo, como da ultima vez.

_Saudade de mim_ abriu os braços num gesto amigável.
_O que você quer?
_Conversar, soube de umas coisas interessantes sobre você ultimamente. Você não me deixou falar muito da ultima vez.
_Eu não me esqueci, ainda vou fazer você pagar. Eu e o Joe quase morremos.
_Isso vai ser interessante, mais eu não quero brigar, não agora.
_O que quer então?
_Já disse, conversar. Mas o assunto que tenho pra tratar com você é um tanto delicado, não quer dar uma volta comigo?
Eu apenas ri.
_Eu já imaginava que seria assim, mais infelizmente eu vou ter que insistir_ disse.

Quando ela disse isso, dois vampiros enormes apareceram atrás de mim, não pareciam muito felizes. Nas minhas condições atuais não tinha jeito de eu ganhar uma guerra contra eles, eu estava encurralada, mais eu não desistiria fácil.

_Não vou a lugar algum com você.
_Não me obrigue a usar a força querida.
_Por que eu simplesmente não acabo com você? Sabe muito bem que posso, só não fiz da ultima vez porque você trapaceou.
_Por que os seus poderes não funcionam. É o que acontece quando se engravida de um lobisomem.
Eu não consegui responder, como ela sabia daquilo?
_Eu disse, ouvi umas coisas muito interessantes sobre você. Agora, você vai vir por bem ou por mal?

Eu olhei pros lados discretamente, calculando minhas chances de conseguir fugir, não eram nada boas. Mesmo assim tentei, corri pra longe dela, tentei passar pelos brutamontes mais estava muito lerda, eles me seguraram, cada um pegou um braço meu e então me viraram de frente pra ela. Trish andou calmamente na minha direção, se abaixando pra pegar uma pedra no chão e então parou a minha frente.

_Foi uma péssima escolha_ disse.

Levantou a mão em um movimento rápido demais pra que eu pudesse acompanhar, senti uma dor aguda na cabeça e então tudo ficou escuro.

Narrado pelo Joe

Bati o pé no chão impaciente, porque ela não atendia ao telefone?

_Calma Joe, assim você vai afundar o chão.
_Não enche Selena. Ela não atende o telefone.
_O Kevin não disse que ela foi caçar? Calma criatura.
_Não me manda ter calma, já era pra ela ter chegado, ao menos ligado, ela nunca deixa de avisar quando vai demorar, tem alguma coisa errada.
_A única coisa errada aqui é você, ela anda diferente esses dias esqueceu? Por causa daquilo?
_Isso não tem nada haver.
_Como não? Ela deve ter se distraído enquanto caçava, anda mais faminta ultimamente.
_Eu vou atrás dela_ levantei e fui andando na direção do portão.
_Joe_ Selena se enfiou na minha frente_ Não é uma boa idéia você aparecer quando ela estiver caçando.
_Agente se ve depois.

Tirei ela da minha frente e sai dali. Quando cheguei no meio da floresta voltei a minha forma humana, andei por todos os lados, mais ela não estava em lugar algum. Então senti os passos leves atrás de mim.

_Eu sei que você ta ai_ falei.
_Desculpa, não podia deixar você perambulando por ai sozinho desse jeito_ disse envergonhada.
_Não tem problema Selena, obrigada por se preocupar.
_Não tem de que. Não achou nada né?
_Eu não sei o que fazer, eu to preocupado com ela.
_Vai ficar tudo bem você vai ver.

Continuei andando devagar pela floresta até que algo brilhante no chão me chamou atenção. Me abaixei pra olhar e peguei o objeto. Meu coração quase saiu pela boca quando vi o que era, o cordão que eu havia dado de presente a ela. Agora eu tinha certeza que algo havia acontecido, me virei pra Selena com os olhos arregalados de terror.

_Aconteceu algum coisa com ela, ela desapareceu.
_Joe calma, não se precipita...
_Olha pra isso Selena_ gritei exaltado, colocando o cordão na frente dela irritado, ela deu um passo pra trás e arregalou os olhos_ Ela não iria a lugar nenhum sem isso.
_Pode ter arrebentado e...
_Para com isso Selena_ Gritei mais alto ainda_ para, negar não vai ajudar.
_Eu prefiro acreditar que foi isso que aconteceu.
_Não me interessa o que você acredita, eu sei que aconteceu alguma coisa... Eu sinto.

Comecei a tirar a roupa pra poder me transformar e ela me olhou espantada.

_O que você ta fazendo?
_Vou falar com Marcus, você vem?_ ofereci o cordão pra que ela segurasse.

Me fitou por um instante e então puxou o cordão da minha mão, sem mais nenhuma palavra eu me transformei e começamos a correr de volta a casa dela.